sábado, setembro 07, 2019

Eu não consigo largar o celular.

Há uns 10 anos, li uma notícia que dizia que olhar o celular era a primeira coisa que mais de 50% dos norte-americanos de 18 a 25 anos faziam ao acordar. Na época, os smartphones não eram tão comuns, e fiquei em choque com a notícia: mas como é possível que uma pessoa, antes mesmo de terminar de acordar, olhe o celular?


Sei que, com o passar do tempo e com a chegada de novas tecnologias quase que diariamente, é comum que nossos hábitos mudem. Chamar um táxi acenando na rua, por exemplo, é raro. Mandar um email pra saber notícias de alguém, nossa, já virou coisa do passado com tantas ferramentas de comunicação. 

Sendo assim, não é de se assustar que, 10 anos depois, eu também tenha me tornado essa pessoa que olha o celular quase que instantaneamente ao abrir os olhos pela manhã. E não é só isso: o celular também é a última coisa que olho antes de dormir, é o que vou olhando no caminho que faço a pé pro trabalho, é o que me distrai enquanto não chega o metrô... O celular consegue ser minha fuga quando não quero pensar em nada mais, e ao mesmo tempo é o que enche a minha cabeça de informação e pensamentos diversos. Tenho consciência de que estou perdendo tempo e sei o quanto isso tem me impedido de refletir sobre diversos temas. 

Outro dia, deixei o aparelho na bolsa por alguns minutos, enquanto caminhava para o trabalho. Refleti sobre a quantidade de coisas que estão acontecendo ao nosso redor e como estamos deixando de percebê-las. Vi uma senhora passeando com SEIS cachorros. Prestei atenção às primeiras mudanças que chegarão com o outono - as folhas amareladas, algumas até caindo - e me dei conta de que o sol da manhã batia lindo entre as árvores. 

Parece besteira, mas todas essas pequenas cenas que aconteceram em um intervalo tão pequeno encheram a minha manhã de significado. Me trouxeram mais consciência sobre o que estava passando ao meu redor e me deram uma melhor noção sobre a passagem do tempo. Me fizeram valorizar os meses de verão em que pude sair caminhando pela manhã fresquinha sem me preocupar com o vento. Valorizar a natureza que, farta, enchia meu caminho de verde e de aromas. Agradecer por mais um dia.

As coisas estão aí: temos que prestar atenção.

Ao relembrar essa notícia de 2009 e me dar conta de que me tornei essa pessoa que tanto criticava, entrei em um conflito de sensações: afinal, não dá pra se opor ao que vem de novo, deixar de usar o celular ou os aplicativos preferidos, ou mesmo as redes sociais, principalmente para quem, como eu, vive longe da família e dos amigos mais antigos. Isso tudo tá aí, em teoria, para facilitar a nossa vida. Pra fazer a gente ganhar tempo. Mas como pode ser que algo feito para otimizar o nosso tempo acabe tomando muito mais tempo do que deveria? Não é um paradoxo?


No fim das contas, a chave, como tudo na vida, é o equilíbrio. Não tem problema em dar aquela escapada e ficar um tempo nas redes sociais. Ou ficar de papo no WhatsApp vendo gifs e memes sem pensar em mais nada. Mas os limites saudáveis estão aí para ajudar a gente a não se desprender tanto da realidade.

Sabemos que o equilíbrio não vem assim fácil. Não é simplesmente dizer pra você mesma: hoje eu não fico pendurada no celular. Assim não vai funcionar, já existe uma relação viciosa que é mais forte do que a gente pensa. É preciso disciplinar-se pouco a pouco para tomar distância do celular. Estipular que ele não dorme do lado da cama (que tal colocá-lo do outro lado do quarto?). Colocar limite de tempo diário para redes sociais (os sistemas operacionais têm isso) e não ficar se boicotando e colocando os "sonecas" porque "eu mereço esvaziar a cabeça depois desse dia tão cheio".

Procure ter sempre um livro de cabeceira e trocar o celular por ele antes de dormir. A qualidade do sono muda muito. Experimente deixar o celular no modo avião ou dentro da bolsa enquanto janta entre amigos ou caminha pro trabalho. Além de prestar mais atenção no que está ao seu redor, você pode evitar acidentes. Quem nunca tropeçou, esbarrou em algo ou em alguém por estar olhando o celular na rua? 

A tecnologia não é um problema ou não deveria. O problema está em se deixar levar por ela e, com isso, fugir dos nossos valores mais essenciais. Pedir taxi pelo aplicativo? Ótimo! Mais seguro, mais rápido, mais barato. Enviar aquela mensagem pra família logo cedo dizendo que ama? Lindo! Aproxima, acalenta, preenche.

Agora, andar pela rua como um zumbi pendurado no celular, corcunda de tanto olhar pra baixo, aí não, né. Deixar de ter uma conversa profunda com alguém em um jantar porque o celular não para de apitar, não me parece coerente com quem valoriza as relações sociais. Visitar uma paisagem impressionante e isso gerar ansiedade sobre qual vai ser o melhor ângulo pra foto, bem, sugiro que antes disso você respire fundo 10 vezes enquanto olha pra paisagem. A foto você tira depois, mas a retina já registrou :)


Tudo isso pra dizer que, sim, é difícil e cada vez mais difícil largar o celular. Eu mesma resolvi escrever sobre isso para ver se organizo meus pensamentos e interiorizo essas sugestões que coloquei aí em cima. Meu pai sempre me diz que "tomar consciência de um problema é 50% do problema resolvido". Acho que a primeira parte eu alcancei. Agora vem a segunda, a mais difícil. E meu filtro para identificar se estou passando dos limites vai ser: de que parte de mim ou dos meus valores estou me afastando com essa atitude?

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Ilustrações de Jean Jullien - https://www.jeanjullien.com 

domingo, maio 13, 2018

Chamberí, a estação fantasma

A história da estação Chamberí se mistura com a da cidade de Madri. 

Ela foi inaugurada em 1919, junto com as oito primeiras estações da cidade, em uma época em que o metrô era o maior símbolo da modernidade na Europa. 

Naquele tempo, só se contratava mulheres solteiras para o trabalho de caixa (era necessário comprar o bilhete conforme as estações que iria percorrer), e dizem que havia homens que pegavam o metrô só para flertar com elas. Quando se casavam, era feito um acordo para que deixassem de trabalhar, exceto caso o marido ficasse doente ou viesse a falecer.


As propagandas da época eram pintadas diretamente nos azulejos das paredes. De purgante a cimento, tudo quanto era produto virava lindos anúncios nas mãos de artistas. Aos poucos, o azulejo foi sendo substituído por anúncios de papel, que eram colados um por cima do outro, gerando uma grossa camada de publicidade.


Por muitos anos, a estação ajudou milhares de madrilenhos a se locomoverem com segurança e rapidez pela cidade. Mas o seu papel foi um pouco além do transporte: durante a Guerra Civil Espanhola (1936 - 1939), a estação ajudou a abrigar feridos e servia de proteção contra os ataques aéreos dos chamados Nacionalistas.

Na década de 60, com o aumento dos usuários, a rede de transporte se expandiu, e cada metrô passou a ter 6 vagões em vez de 4. Isso exigiu o aumento das plataformas e um estudo do impacto financeiro e urbanístico em cada estação. 


Nesse momento, foi definido que a estação de Chamberí seria fechada. Ela era em curva, o que dificultava a expansão e tornava a obra muito cara; além disso, por ter outras duas estações bem próximas - Iglesia e Bilbao - o trem não teria nem tempo de pegar a velocidade necessária depois da expansão. O metrô continuaria passando por ali, mas sem parar.


A desativação fez com que Chamberí passasse por seus momentos mais obscuros. Com o passar dos meses, moradores de rua, usuários de drogas e incapacitados esperavam o último trem passar para ir, pelos trilhos, até a estação. Usavam a plataforma como reduto de drogas, se protegiam do frio e viviam entre ratos e baratas em um ambiente úmido e escuro. 

Quando o metrô voltava às atividades pela manhã, aqueles que passavam viam apenas os vultos dos habitantes noturnos, já que ali não havia luz. Com isso, Chamberí ficou conhecida como a “estação fantasma”.

Muitos anos depois, em 2008, surgiu o projeto de revitalizar a estação Chamberí e transformá-la em um espaço aberto para visitação. Todo o papel dos anúncios de publicidade foi retirado e descobriu-se que, felizmente, eles serviam de proteção às pinturas originais!


Hoje, se pode visitar as antigas bilheterias, a plataforma, ver os anúncios e fazer um passeio guiado que explica tudo sobre o que passou por ali, além de assistir a um vídeo bem bacana que conta a história da Madri do início do século XX e todas as transformações pelas quais passou.


Um passeio não muito turístico nem muito conhecido que vale muito a pena. E é grátis!

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Plaza Chamberí, S/N
Estações Iglesia ou Bilbao do metrô
Quintas-feiras das 10h às 13h
Sextas das 11h às 19h
Sábados e domingos das 11h às 15h
Entrada gratuita

terça-feira, janeiro 09, 2018

Día de los Reyes

Sabe o fervor que fica a vida quando chega o Natal? Correria de comprar presente, comida pra ceia, criançada ouriçada? Pois aqui na Espanha, o fervo mesmo acontece no Dia de Reis, 6 de janeiro. 

Faz todo sentido: quem traz os presentes para o menino Jesus são os reis magos, e não o bom velhinho inventado pela Coca-Cola, rs. Ou seja, nada mais justo do que celebrar o dia deles com comida e presentes.

Por aqui, a tradição é comer o Roscón de Reyes, feito com uma massa deliciosa e levinha que leva rum e água de flor de laranjeira. É coberto com frutas cristalizadas e amêndoas torradas, e pode ser servido com ou sem recheio. Sabe a polêmica “feijão por cima ou por baixo do arroz?” Então, aqui rola isso, só que a briga é entre quem gosta do roscón com recheio de creme ou sem. Eu comi com recheio e amei muito!

Com recheio =P
Além do roscón, outra tradição que rola por aqui é a cavalgada. Toda véspera do dia de reis, a criançada vai pra rua acompanhar o desfile de cavalos e carros alegóricos, que anunciam a vinda dos reis magos. Aqui em Madri, o desfile deste ano trouxe grandes pensadores e grandes descobertas da humanidade. 


Detalhe: foi o mesmo desfile do ano passado. A prefeitura anunciou que, para economizar, usaria a mesma estrutura. Ninguém pareceu se importar.

Ao longo do desfile, os participantes jogam balas para as crianças. São milhares de balas distribuídas. E os pequenos ficam alucinados, gritando: “caramelos! Caramelos!” E brincam de quem pega mais, e levam sacolas e enchem de doces. Bonitinho de vê-los dando tanto valor para essa brincadeira.


Ao final, passam os carros trazendo os reis magos. Eu havia ouvido falar que as crianças escolhem o seu rei mago favorito desde cedo, que é pra ele que elas escrevem a cartinha no começo do ano, mas não imaginava que era uma euforia desse tamanho. Passava um carro, começavam, aos berros: “Baltazar! Baltazar!” Passava outro, e “Gaspar! Gaspar!” 


O desfile atravessa a cidade, vindo por toda a avenida Passeo de la Castellana, terminando na Plaza Cibeles, pra mim o lugar mais bonito de Madri. Ali, uma queima de fogos incrível fechou o evento, levando todo mundo à loucura. 


Nesta noite, todas as crianças que se comportaram bem vão dormir cheias de esperanças, já que os reis magos estão na cidade e não se esqueceriam de passar em suas casas para deixar um “regalo".

Para a cidade, pode se dizer que eles deixaram um presente. Acontece que, em Madri, não chove nunca. E quando digo nunca quero dizer nunca mesmo, é raro chover e essa inclusive é uma queixa de quem vive aqui. Pois bem, na véspera do dia de reis, durante o tão esperado desfile, choveu. E choveu forte. Tanto que algumas fantasias tiveram que ser adaptadas e alguns carros cobertos. 

Só o que não mudou foi o entusiasmo e o brilho nos olhos de todas aquelas crianças. Inclusive da criança aqui. 

Que noite mais linda.

sábado, janeiro 06, 2018

A importância de ter um projeto pessoal

Há quanto tempo não paro pra escrever! Na verdade, a sensação era a de que me faltava tempo até pra pensar, sempre levada pela correria do trabalho e saturada com a quantidade de informação recebida o tempo todo.

Mas quero contar aqui sobre uma experiência que me aconteceu em 2017. Este foi o ano em que decidi ser protagonista da minha própria vida. Isso é um termo que escuto muito em terapia e, aos poucos, ao interiorizá-lo, foi possível colocar em prática com mais facilidade.

No final de 2016, pedi demissão de uma grande agência onde trabalhava. Não preciso me apegar aos motivos, apenas ao fato de que não estava feliz - e não deveria ser esse o critério pra todas as nossas escolhas? 

Não tinha planos, não sabia o que queria. Mas sabia o que não queria, e isso já era meio caminho andado. Comecei o ano de 2017 sem saber o que iria me acontecer, o que seria motivo de desespero para a metódica e controladora “eu de 2016”. Mas, neste novo momento, aquilo me pareceu uma forma de trazer mais paz à minha vida, e menos cobrança.

A verdade é que achei que, um belo dia, me viria uma "luz" dizendo “vai fazer brigadeiro gourmet!” Ou “seu futuro é trabalhar como personal organizer!”

Reaprendi a fazer as coisas sem pressa, sem atropelo. Aprendi a gostar de ficar em casa e de cuidar dela. Comecei a cozinhar e viver o milagre de transformar 50 reais no sacolão em comida pra semana toda. Voltei a ler. Comecei a meditar. Saía pra passear pela cidade e relembrei a quantidade de programas gratuitos em São Paulo.

Entendi que era possível viver uma vida muito mais simples, com menos coisas, menos gastos, e ainda assim ser muito feliz. Na verdade, os primeiros 6 meses de 2017 foram os mais felizes que já vivi até hoje, desde que me lembro. 

E (aquele lance da "luz"), ao longo desses meses, retomei o sonho antigo de viver em Madri. Desde a minha primeira viagem sozinha, quando fui pra Espanha em 2013, me encantei demais com o país, e coloquei na cabeça que queria morar ali. Mas ficou aquele sonho de prateleira (lembra que me faltava tempo até pra pensar?), que nunca nem chegou a ir pro papel.

Pois bem, agora era a hora de ir pro papel, literalmente

Comprei uma cartolina, escrevi bem grande no meio ˜Madrid 2017˜, e ali comecei a desenhar meu projeto pessoal. De que precisava para arrumar um emprego? Que medidas eu teria que tomar para me preparar - vender carro, alugar apartamento, organizar coisas de banco e saúde? Até mesmo, de quem precisava me despedir? Tudo isso foi colocado no papel e concluído, item a item, a caminho da minha realização.

Eu, que sempre me dediquei tanto a projetos “dos outros”, me senti muito bem em buscar algo realmente pra mim. Fixei meu pensamento nisso e coloquei em prática cada um dos itens da lista: comecei a estudar espanhol, traduzi currículo, fui atrás de contatos, consertei meu carro, vendi e doei coisas…

Claro que meu imediatismo fez com que eu me frustrasse bastante. Achei que as coisas aconteceriam mais rápido do que elas de fato aconteceram, e precisei me disciplinar no sentido de entender que as coisas levam seu tempo pra acontecer, por mais que eu estivesse fazendo tudo o que estava ao meu alcance.

E, como assim é a vida, tudo aconteceu a seu tempo. No final de novembro, consegui uma oportunidade de trabalho, a melhor que poderia querer. Me deram 1 mês para fazer a mudança e me despedir das pessoas. Consegui passar o Natal com minha família e organizar o que foi possível. 

Ficaram algumas coisas por fazer. Nem tudo aconteceu da forma que eu esperava. Porque, claro, como já aprendi neste 2017, as coisas não acontecem no tempo que a gente quer e não há como ter controle sobre isso.

O que fica é a lição de que é possível conseguir o que se quer, quando realmente se vai atrás. E que todo o esforço é válido quando se tem uma meta pessoal e coloca seus sonhos em primeiro plano.

Daqui de Madri, convido você a ser protagonista da sua própria vida, e pergunto: qual vai ser a sua cartolina em 2018?

quinta-feira, março 26, 2015

#30: Ter um lugar pra chamar de meu.

Finalizo as 30 experiências da melhor forma possível: realizando o sonho da casa própria. Posso dizer que entrar num espaço que é seu, ainda que ele esteja no contrapiso e imundo de obra, é uma sensação de gratidão quase que inexplicável. Principalmente se pensar que foram mais de 4 anos esperando por esse momento.

Explico: comprei este apartamento na planta, naquele esquema de pagar a entrada e passar a construção pagando parcelas. Na época, trabalhava no mercado imobiliário e participei deste projeto desde o dia em que compraram o terreno. Imagine então a minha felicidade quando, depois de ver o projeto pronto (e lindo), consegui, com o apoio da família, dar a entrada para a compra de uma unidade.

Foram 3 anos de construção, entrando mensalmente no site da incorporadora para acompanhar a evolução da obra. Tudo certo e em dia para que a entrega das unidades acontecesse em setembro de 2013.

E foi aí que começaram os pesadelos. Houve uma série de problemas para emissão do Habite-se - documento da prefeitura que atesta que o empreendimento entregue está em linha com o projeto original - e, para isso, mais e mais obras rolaram. Um ano de idas e vindas com a prefeitura.

Nesse período, vivi na incerteza do que seria da minha vida dali pra frente, já que o documento poderia sair a qualquer momento. Durante este tempo, acumulei coisas compradas e ganhei presentes.

Devo confessar que, nessa época, cheguei a pegar bode do apê. Foi tanta dor de cabeça que pensei em desistir de me mudar pra lá. Finalmente, em setembro de 2014, o Habite-se foi emitido e, com isso, consegui entrar no apartamento.

No fim das contas, não tive como não me emocionar ao entrar naquele espaço pela primeira vez. Era o meu apartamento. Meu refúgio, o lugar pra onde eu poderia correr qualquer que fosse a situação. A vista, os quartos, me peguei fazendo mil planos e sonhando com tudo o que queria colocar ali.

Estes 6 meses desde que peguei as chaves têm sido de grande aprendizado. Passei a entender dos diferentes tipos de pisos, janelas, chuveiros e acabamentos, e aprendi que não se pode esperar gastar menos de 500 reais a cada comprinha na Leroy Merlin (pelo menos nesse início).

É, vai um dinheiro bom nessa história, mas cada decisão de compra ou obra, cada coisinha nova com que componho minha casa traz uma satisfação ainda maior: de estar fazendo algo por mim. É como se cada detalhe, por mais bobo que seja, fosse um carinho que dedico a mim mesma. E, a cada pequena conquista, só consigo agradecer.

Sei que as obras ainda vão levar um certo tempo até que tudo fique do jeito que eu esperava, mas não tenho pressa. Meu refúgio vai estar sempre ali. E ainda tem muita gente querida que vai passar por lá, muita história pra acontecer, muita vida boa pra gastar ali na minha casinha nova.

Bem vindos =)

quinta-feira, fevereiro 26, 2015

#29: Tratamento com Roacutan

Se você por acaso acompanha este blog, pode ter pensado que desisti do meu desafio de viver 30 novidades antes de completar 30 anos. A verdade é que dois acontecimentos que vivi antes dos 30 se estenderam até agora, e preferi esperar que acabassem para falar a respeito. Por isso o atraso ;)

A primeira destas é ter feito tratamento com Isotretinoína, o Roacutan. Essa foi uma experiência um pouco difícil, mas, diria, necessária. E fica aqui o relato para tirar possíveis dúvidas de alguém que queira fazer o tratamento, mas tenha algum medo; ou, ainda, pra quem quiser saber um pouco mais dessa experiência diferente que passei.

O mistério é que nunca tinha tido grandes problemas de pele quando adolescente, e comecei a ter espinhas por volta dos 27 anos. Pode ser a chamada "espinha nervosa", decorrente do estresse. Não sei. Só sei que não queria mais passar por esse incômodo e minha dermatologista me convenceu a começar o tratamento.

Tinha muito receio de tomar o remédio por conta de tudo o que havia escutado sobre ele, mas, pelo que pesquisei, a fórmula mudou muito de uns anos pra cá e se tornou menos agressiva ao organismo.

O tempo inicial de tratamento é geralmente calculado com base no peso da pessoa. Com meus 60kg, inicialmente tomaria por 6 meses e meio a dose de 40mg (2 cápsulas) por dia. Aqui em São Paulo, foi possível retirar o remédio sem custo na Farmácia de Alto Custo, que é do Governo do Estado e fica no Glicério, mediante apresentação dos documentos necessários - o que foi uma grande mão na roda, já que a caixinha com 30 comprimidos custa cerca de R$ 200,00 e eu tomaria duas por mês.

O tratamento exige visitas mensais ao dermatologista e pede atenção redobrada com a saúde em geral. Bebida alcoólica, raramente, e você sente que não faz bem mesmo. Como o remédio é processado no fígado e é muito forte, ele já consome muito de sua capacidade. Com isso, deve-se evitar beber para não sobrecarregá-lo.

Métodos anticoncepcionais são mais do que obrigatórios para as mulheres, já que o remédio pode gerar má formação do feto e aborto. Por isso mesmo, todo mês ao pegar a receita, era preciso levar também o Beta HCG, exame de gravidez, atualizado e, é claro, negativo.

Além disso, são necessários hemogramas trimestrais para acompanhamento do organismo em geral. No meu caso, por exemplo, o remédio gerou aumento do colesterol, o que segundo minha médica é algo comum durante o tratamento.

Para retirar ou comprar o remédio, também é necessário preencher um documento assumindo que você sabe dos seus riscos. Isso porque, em pessoas com tendência, o medicamento pode causar depressão ou mesmo levar ao suicídio. É claro que os casos não são assim comuns, mas o fato é que senti um desequilíbrio emocional bem significativo durante os primeiros meses do tratamento. Era como uma TPM constante (imagina!).

No primeiro mês, minha pele colocou pra fora todas as espinhas; em seguida, descascou bastante por mais uns 2 meses, daí parou e fiquei só com o nariz, olhos e lábios ressecados. Faz parte do tratamento ter um kit com colírio lubrificante (eu usei o Fresh Tears, que foi muito bom), soro fisiológico para o nariz e um protetor labial (que, pra mim, não teve melhor que o Bepantol). Há casos em que os lábios racham feio, mas acredito que é só mantê-los hidratados que não tem erro!

Os produtos em geral, como sabonete e hidratante para o rosto, só devem ser usados mediante recomendação médica, já que a pele fica realmente muito sensível e pode ter inúmeras reações a produtos convencionais.

Depois destes primeiros meses, a pele passa a ficar bem bonita e super macia (ah, os cabelos também ;) e então os efeitos colaterais do remédio ganham menos importância. Você passa a aceitar um chopp ou tacinha de vinho e vê que, se não exagerar, não tem problema (claro que isso deve ser visto caso a caso).

Minhas espinhas nervosas foram um bocado resistentes, e continuaram aparecendo mesmo depois dos 6 meses planejados de tratamento. Por volta de 9 meses, quando começaram a de fato desaparecer de vez, minha médica iniciou um processo de "desmame", em que passei a uma cápsula por dia em vez de duas.

Um ano de tratamento depois, feliz da vida com os resultados, me vi livre do Roacutan. Voltei à vida normal e, agora, devo fazer um novo exame dentro de dois meses só pra ver se está tudo certo. Os médicos recomendam um período de 6 meses até pensar em engravidar (o que não estaria nos planos agora, de qualquer forma), já que a substância ainda fica no organismo por um tempo.

De fato não me arrependo nem um pouco de ter feito o tratamento. A única coisa da qual me arrependo é de não ter feito um "antes e depois", pra que pudesse lembrar de que valeu a pena passar por tudo isso para ter uma pele mais bonita e saudável :)

quinta-feira, julho 31, 2014

#28: Conhecer o Cromo

Em Santana, zona norte de São Paulo, existe um lugar muito especial: o Instituto de Psicoterapia Autógena, também conhecido como Cromo. Foi fundado em 1978 e desde então oferece diferentes tratamentos, desde psicologia até terapias alternativas como reiki e cromoterapia, todas gratuitamente.

Pois foi atrás da cromoterapia que busquei o instituto. Pra quem não conhece, é a ciência que se utiliza das cores pra equilibrar energicamente a saúde. O tratamento pode ser feito de diversas formas - meu pai, por exemplo, tem um aparelho com um cristal de luz na ponta, em que se encaixam plaquinhas coloridas pra mudar de cor - mas o mais comum é fazer essa energização com lâmpadas mesmo.

Cada uma das cores tem um objetivo específico. Azul, por exemplo, é calmante, assim como o amarelo é fortificante e o vermelho pode ser eficaz contra a depressão.


Cheguei ao Cromo por volta das 20h. Duas senhoras muito simpáticas me receberam. Preenchi uma ficha e logo fui encaminhada a uma sala escura, com alguns sofás e apenas uma lâmpada no alto, que mudava de cor. Maria, quem me acompanhou, me orientou que ficasse ali por um tempo, apenas relaxando e pensando em mim.

Desliguei o celular só pra ter certeza de que não seria interrompida por nada naquela hora. A música calma ao fundo e o cheiro suave de incenso me ajudaram a relaxar ainda mais. Fiquei ali por uns 10 minutos, respirando muito fundo e praticamente entrando num transe com aquela luz que mudava de cor.

O passo seguinte foi ir à sala ao lado. Esta tinha somente uma luz verde que, dizem, é a cor da cura. Nesta sala, haviam algumas cadeiras e, acima de cada uma, armações em formato de pirâmide, que atuam na energização. Fiquei por ali mais alguns minutos, meditando ao lado de outras pessoas sob a estrutura da pirâmide, até que uma outra senhora me chamou.

Fomos para uma terceira sala, dessa vez para receber de fato o tratamento. Ela pediu que eu mentalizasse somente energias positivas, pedisse a Jesus que me abençoasse, e começou a me aplicar um passe.

Em seguida, pegou lâmpadas de diferentes cores, uma a uma, passando-as sobre mim em regiões específicas. Eu estava de olhos fechados e bastante tomada pela energia daquele passe, mas deu pra ver que todas as cores passaram por mim naquela hora.

Só conseguia pensar que, muitas vezes, a gente emprega muita energia em coisas que não valem a pena, e que a vida na verdade é tão mais simples, mas que a gente só consegue enxergar isso quando para de fato pra pensar e refletir sobre ela, de coração aberto e mente tranquila.

Ao final, muito relaxada, recebi um copinho de água energizada e uma caixa, de onde eu deveria retirar uma frase. “Geralmente faz sentido”, disse ela. Ao abrir, a frase:

“Hoje eu me dedico a ver as coisas sem complicações, e mantê-las simples.”

:)

Ainda conversei mais um pouco com a Maria, que há anos trabalha como voluntária no instituto. Ela me contou um pouco sobre as ações que eles realizam e me convidou a voltar mais vezes. Ganhei um abraço muito apertado antes de ir embora e cruzar a cidade de volta pra casa, mais leve e mais feliz.

O Instituto de Psicoterapia Autógena fica na Rua Ana Benvinda de Andrade, 93, em Santana. Funciona de segunda a quinta, das 19h às 20h30, e às sextas, das 14h às 17h. Eles pedem como contribuição um quilo de alimento ou R$ 5,00, valor simbólico para ajudar pessoas que tanto fazem o bem, em um instituto com propósito tão bonito.


Mais informações: http://www.caminhandojuntos.com.br/